terça-feira, 6 de julho de 2010

Diálogos da cachaça

Andando pelo corpo da Cidade das Desgraças, vai embora Zé Qualquer, anda pelas ruas Criatura Zé, sem saber, exatamente o que quer. Ele está acompanhado de sua eterna companheira, mãe de todas as horas, pau pra toda obra: a excelentíssima senhora Cachaça dos Perdidos. Sempre de sorriso no rosto, bom humor e quase nenhum senso de juízo e realidade na cabeça, vagueia por ali e por aqui.
De porre por aqui, ele encontra uma moça travestida de mulher, cheia de pinturas e rostos numa viela escura de Desgraças. Ela, encostada num canto, chora e desfaz todas as suas máscaras noturnas básicas e complicadas.
Comovido, pois os bêbados como Zé Qualquer sentem a dor da criatura alheia, vem ao lado da moça e pergunta:
- Pppu que a moci munita chora?
Ela, machucada pelos Fulanos da Noite, já não enxerga a possível compaixão de nosso trêbado personagem e responde de forma quase cruel:
- Num sei, homi. Choro porque chorar aqui nessa Desgraças é a coisa mais normal pra se fazer. Só não é mais do que beber - conclui ela, alfinetando o quase cidadão na sua frente.
Quando ela percebe o modo como havia falado com o pobre Criatura, com toques de mãos e carícias típicas de sua personagem, tenta se desculpar. Qualquer só sorri, beija a testa da menina mulher e diz, espalhando aquele aroma [a]típico pelo lugar:
- Cê tá errrad muça! Chorar é mai nomal sim, pusque cachaça - beija sua companheira - é a láguima dos perdido.
Toma um trago e segue seu caminho.

12 comentários:

Pedro disse...

Delicioso de se ler como uma cachacinha mineira de beber...

:B

Calango! disse...

Muito bom cara. Muito bom!

Serennus disse...

"a excelentíssima senhora Cachaça dos Perdidos. Sempre de sorriso no rosto, bom humor e quase nenhum senso de juízo e realidade que na cabeça, vagueia por ali e por aqui."

essas pessoas nem precisam existir, na verdade, talvez, cada um é coisa da cabeça do outro, que a imaginação bebada cria.

Haniel disse...

Nossa, muito bom mesmo.

Gabrielle disse...

Hey, mais um blog decente pra eu ler nas horas vagas,yay. Ótimo texto! :)

GABRIEL, gustavo disse...

Decente é bom, né?
^^

Obrigado, Gabrielle.

E, ah, Dyego, eu já vi bêbado achar que boneco de posto era segurança... eu entendo como isso funciona...

MicaEla ~* disse...

esse texto tem sabor caipirinha.
vê outra dose aí!

Nathi disse...

Decente é meio "[a]típico", mas depois de 3 tragos, decente vira camarada.

e esse texto, com todo carinho tá lindo, puta que o pariu!

beijo [com sabor de vodca + enrgético, cachaça só pros fortes, eu não!]

Virna disse...

Coisa de carioca duma figa

Unknown disse...

Olá, bom texto e bom blog, parabéns. Cheguei a ele por meio do site do Pavarini. Quando tiver tempo, dê uma passada lá no Deus no Gibi para ver as novidades que estão no ar. Tem um texto bacana falando que Chico Bento é o menino segundo o coração de Deus e uma entrevista com o autor da história em quadrinhos Yeshuah, que apresenta um Jesus feio e uma Maria adolescente. Veja lá no www.deusnogibi.com.br
Valeu, abraços

Maíra D disse...

chora, moça... abasteça a sua garrafa.

Anônimo disse...

Muito bacana! ;)

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