quarta-feira, 17 de março de 2010

Tito e Pedrão

"Precisa-se de voluntários (homens) para auxiliar na construção do Congresso Regional de Enfermagem. Interessados procurar o C.A de enfermagem para maiores informações."

- Uia! Parece que esse aviso foi feito pra gente, Tito! - dizia Pedrão, com aquele seu sorriso de milhões de dentes na cara.

- Não sei... não sei...

- A gente descobre.

Lá vão os dois, atrás de "maiores informações".

O que impulsiona os homens atrás de tantos rabos de saia Tito não sabia; ou talvez fingisse não saber. Pedrão não se importava com isso; porque pensar sobre o objetivo de sua vida? A caça? É coisa demais.

- Bem... nós precisamos de homens para ajudar na organização do espaço físico de onde será o Congresso e depois os remanejaremos para equipes de apoio. Que vocês acham?

Aquela presidente de C.A era um pedaço de mal caminho, pensava Pedrão. Ai, meu Deus... trabalho extra, pensava Tito.

- Estamos dentro! - Pedrão

- Estamos? - Tito

- Sim, estamos.

E naquela noite, Tito não conseguiu dormir; suas costas doíam de tanto peso que carregara, mas Pedrão exultava de alegria na cama, pensando nos três dias de sacanagem que o esperavam; afastou um pouco a presidente do C.A de enfermagem, que ocupava muito espaço no colchão e foir dormir ofegante e feliz.

- Bem... Pedrão, você fica na equipe de recepção - a presidente deu uma piscadinha para ele, que retribuiu - e você Tito... bem... você vai pra cozinha. Pedrão disse que você lava pratos muito bem.

- Ótimo! - Pedrão não podia esconder a alegria de pensar no futuro próximo, onde estaria em contato com muitas e muitas mulheres.

Ele era o tipo de cara caçador. Sorriso de milhões de dentes, matador. Lábia venenosa, palavras penetrantes. Você não resiste a ele, mulher.

- Ótimo... - Pobre Tito.

Mas, afinal, ele pensou: o que eu, um cara tímido pra caralho, sem atributos chamativos, faria numa equipe de frente? Vamos a la cocina.

No outro dia todas aquelas caravanas de outros Estados chegavam, todas as moças (e aqueles poucos rapazes que fazem o curso) se acomodavam e o trabalho começava. Pedrão fazia a alegria da mulherada em seu tempo livre; e Tito ajudava a fazer sua comida. Todas reparavam em Pedrão; não tem como não reparar nele; elas não reparavam em Tito. A vida é assim mesmo: as vezes, ela não guarda nada de especial para alguns: nem um sorteio, nem um romance, nem um sexo casual e selvagem que será lembrado pelo resto dos seus dias.

E enquanto Tito talvez tinha esses pensamentos e Pedrão relaxava numa mesa de refeitório cheia de mulheres, a fila do jantar andava e um olhar, somente um olhar penetrante e lincético, olhava para o cara tímido que servia o arroz nos pratos. O olhar penetrou lá dentro, esquadrinhou, escolheu.

Pedrão era o primeiro a sair do refeitório; recepcionar e indicar era sua função principal: divertí-las em todos os momentos a secundária. Tito era o último, fadado a limpar tudo o que sobrava; ele até já se acostumara com aquela calma solidão. De repente, batidas na porta. Tito abre a porta, estranhando, e uma moça com os olhos mais negros e penetrantes que ele já vira olha direto pra ele e fala:

- Perdi meu pen-drive; acho que o deixei aqui.

"Sotaque carioca. Engraçadinho" - Tito Pensou.

- Ok, moça. Fica a vontade. Eu to acabando de limpar por aqui, enquanto isso você vai procurando.

E ela ficou lá, procurando seu pen-drive. Tito limpava, e ela se agachando pelos bancos; poses altamente insinuadoras. Será que... não não! Tito estava imaginando coisas, pra variar.

- Desisto, acho que deixei em outro canto - ela disse, sentando sobre uma mesa e cruzando um incrível par de coxas que ele realmente já tinha reparado.

- A gente anuncia no alto-falante amanhã.

- Você já vai fechar? Já acabou de limpar por aqui?

- Não não.

- Ah... posso ficar aqui, conversando com você? Não tem nada pra fazer onde eu to lá...

Tito naturalmente sabia que era mentira. Pois todas as noites do congresso eram regadas a festas, bebidas e danças; organizadas pela diretoria ou não. Mas, ele foi complacente.

Ele estava até gostando da companhia.

Quando acabou de limpar, ele sentou do seu lado, jogou um pouco de conversa fora. Ela jogou o corpo. Ela atacou; ela era uma caçadora, uma lince.

E ela descobriu um Tito diferente, enquanto rolavam pelo chão do refeitório fechado a chave. Não só um amante extremamente desejável; mas, numa conversa divertida e regada a algum álcool depois do sexo ela descobriu um artista, um trabalhador, um aventureiro viajante nas poucas horas vagas com o pouco dinheiro que tinha.

E eles se jogaram um pouco mais. Se "amaram" um pouco mais. Até cada um seguir seu caminho, após a porta do refeitório se fechar pelo lado de fora.

Meio-dia, Tito chega para o seu turno. Pedrão já está lá, olhos de ressaca, sorriso de felicidade e gozo na cara junto com aquela malandragem impecável.

Tito coloca seu avental e começa seu turno. Enquanto trabalha, sente um ar estranho ao seu redor: como se centenas de olhos o olhassem. Mulheres agradecem seu trabalho; mãos passam telefones enquanto pegam suavemente na sua na entrega de bandeijas. A fila parece dobrar de tamanho na hora das repetições. Essa mulherada enlouqueceu.

Pedrão ria da situação; pois Pedrão sabia a resposta de tudo:

Sim, Tito, a mulherada enlouqueceu;
por você.

9 comentários:

Mari Costa disse...

Nossa, como tu escreves bem, rapaz!

E a mulherada enlouquece, mesmo.
Parabéns pelo texto!

Kesia Duarte disse...

Tito, homem de sorte. Mesmo as escondidas, segurou a moça que possuía o incrível par de coxas. Phoda o rapaz. Texto bonzinho. :P

Yuri Padilha disse...

Irmão, sempre se superando na escrita!

Sempre achei importante ser bom de cozinha!

; )

GABRIEL, gustavo disse...

A cozinha é onde se esconde todo bom mistério da criação.

Anônimo disse...

Juro que fiquei com pena de Tito.
No começo, claro.
Por que se todas as mulheres não resistem a um homem, eu faço de tudo pra ser a primeira a provar o contrário ;)
uma beleza o texto, Gustavo. Parabéns :*

Nathi disse...

"Mas, afinal, ele pensou: o que eu, um cara tímido pra caralho, sem atributos chamativos, faria numa equipe de frente? Vamos a la cocina."

Aqui eu sabia o que ia acontecer...

"ela disse, sentando sobre uma mesa e cruzando um incrível par de coxas que ele realmente já tinha reparado."


Aqui, eu tive certeza.

Texto divertido, também beeem previsível.
Tá, mas foi divertido [pra todo mundo!]!

^^

GABRIEL, gustavo disse...

A previsibilidade é um daqueles defeitos que faz com que você leia até o final, só para provar que talvez você estivesse certa(o). Porque não usá-la de vez em quando?

;.]

Nathi disse...

Não usando sempre...perdoa-se.
Só pra ver (e sempre vejo) que no final, eu estava certa,
e esta sensação é ótima.
Adoro textos previsíveis!

João Gilberto Saraiva disse...

Faltou dizer que Tito viveu feliz para sempre. E o "The End" sobe na tela negra vagarosamente.

Boa fantasia doutor e bom texto também.

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